sábado, novembro 25, 2006

É uma merda, mas é assim.

Semanas barulhentinhas. Fim de ano, cheio de burbulhinho também. Muita farra e pouco conteúdo. É uma merda, mas é assim. Coisa mais hipócrita, mas é assim, fazer o quê. Vamos todos parar e dar as mãos e nos lembrar que crianças não tem o que comer e que não têm que trabalhar, mas é assim. Não pensem que eu estou de fora. Não sobra tempo e não sobra saúde pra sair da redoma. É uma merda, mas é assim. E todo final de ano eu digo a mesma coisa: isso vai mudar. Não muda. É uma merda, mas é assim! E a ficha fica parada o ano inteiro. Fica na garganta, paradona. Chega no final do ano, a época em que se olha umbigo afora, daí a ficha cai. Mas cai tarde, porque agora a gente pisa no terreno da hipocrisia (não adianta, portanto, dizer que estou me tornando menos egoísta).
Entretanto, desconfio que as coisas todas são reservadas para acontecer no final do ano. Talvez a sobrecarga seja tanta, que tudo vai como que espirrando pra fora, naturalmente, por ordem de escassez, mesmo. De fadiga, de cansaço. E coisas estão se modificando, neste sentido, na minha vidinha de Hello Kitty [parafraseando José Simão e tirando o "adjetivo" atribuído à primeira-dama]. Uma porque eu nunca suportei o jeito Hello Kitty de ser - digo: a vida não é só oba-oba, taças e brindes, saltos e cílios postiços. Acho tudo muito lindo, mas simplesmente não sou parte deste mundo, me sinto um patinho feio a começar pelo salto que eu não uso e os cílios postiços que eu não preciso... siiiim, a vida está mudando. Chega de incoerência, sabe? E começando comigo. Espelho. Às vezes me envergonho de coisas que eu faço e de coisas que eu penso. É uma merda, mas é assim. Às vezes, julgando, me dou conta de que me sinto superior e não sou superior coisíssima nenhuma, muito pelo contrário. Sou só inteligente. Muito inteligente, quando não estou distraída. E quando não tenho preguiça de ser. Quando eu esqueço um pouco os vestidinhos e a maquiagem, a estétiquinha de tudo, a imagem ostensiva e o conteúdo reprimido. Querendo falar e sem espaço. É uma merda, mas é assim. Esta coisa de querer sempre ser e ter o centro das atenções, sabe como é? E de insistir em ser mimadinha mesmo quando se é grandinha. Fazer manhas, bicos. Ser irresponsável e intolerante e adolescentezinha, mesmo quando se tem vinte e muitos anos. Porque os outros têm sempre culpa e eu sou sempre a vítima. Porque os outros têm sempre segundas e terceiras intenções. Porquê eu preciso demonstrar poder e controle sobre tudo. E porque eu falo uma coisa, mas faço o contrário. Porque eu estou desperdiçando tantas coisas boas. É que eu olho primeiro pro outro e depois pra mim. É uma merda, mas é assim. As vezes eu nem percebo que o outro está falando, já passei por cima. Só que o mundo do lado de fora do meu cabelo liso não tem muita paciência. Ele fica calado, nem sempre grita. Ele fala uma vez, com jeitinho. Talvez duas. Às vezes o mundo tem cara de Hello Kitty [capa não é conteúdo]. Ele engole uma, engole duas, talvez três. Na quarta, ele vira bicho. O tapa dói e é irreversível. Incoerência se mostra. Injustiça não agrega, só separa. Ah, e afasta também. Ninguém vai entender nada de nada disto tudo, a não ser que olhe bem olhado. Quero dizer que minha vida está mudando. Quero pessoas sinceras, perto de mim e quero aprender a ser sempre e mais sincera. Quero gente justa e quero ser sempre justa. Quero gente voluntariosa e quero ser ainda mais. Quero gente adulta, mas que tenha o motor-criança dentro de si, assim como quero aprender a ser e conciliar as duas coisas. Quero ser bem vinda. E se não me encaixo, não me encaixo e pronto. Não adianta tentar colocar um prego num buraco de tamanho diferente. Ou ele pertence àquele espaço, ou não pertence. É uma merda, mas é assim.
Neste período eu estou tentando colocar o meu prego nos buracos certos. E estou tentando crescer, ser a melhor pessoa que posso ser. Estou aos poucos percebendo ser mais tolerante e mais serena para lidar com os conflitos. E o que eu achei que fosse [em mim] frieza, na verdade é surpreendentemente serenidade, maturidade. Doação de verdade. Mergulhei, mas parece que tudo insiste em estar na superfície. Sob saltos e máscaras. Não sei até quando estarei sozinha deste lado. Queria conversar com gente que me entende, mas estas pessoas parecem estar muito longe...
...é... é uma merda. Mas é assim.
***

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