just me
Eu tenho diários escritos desde os quinze anos. Por que não arranjo tempo para relê-los? Será que aquela menina ainda existe ou será que não existe mais? Já faz uns dois anos que eu parei de escrever nos cadernos e passei a escrever tudo no blog. Perdi o primeiro blog, que já tinha dois anos, quando perdi alguém que achei que fosse o amor da minha vida. Ah, a gente sempre acha coisas. Depois o tempo passa e pára de achar. Eu acredito que Alguém rege a minha vida e faz com que tudo caminhe da melhor forma possível. Procuro aprender com meus erros e minhas perdas. Procuro ser uma pessoa melhor e inofensiva. Procuro ser e estar feliz e aprendi a diferença, com o tempo, de ser feliz e de estar feliz. É, aprendi que existe esta diferença e que o fato de em algum dia eu não estar feliz não quer dizer que eu queira cortar meus pulsos.
Minha vida já pareceu perder o sentido todas as vezes que eu perdi alguém que amei. Hoje acho que realmente amei, embora acredite que existem níveis diferentes de amor, e que o nível mais bonito e mais forte eu ainda não conheci. Agora eu estou escutando minha mãe conversar com minha madrinha ao telefone. Tentei falar com ela agora há pouco, mas a linha estava ocupada. Passou alguns minutos e ela ligou pra gente... estou tomando uma taça de vinho e vestida pra sair. Eu ia sair hoje à tarde, mas desisti, simplesmente desisti. Fiquei aqui assistindo os filmes que eu loquei (duas porcarias de filmes de terror, não percam o tempo de vocês). Li o blog de uma amiga, que me fez pensar nos rumos que a vida toma.
Não dá pra teimar muito quando o nosso coração começa a querer falar. Não adianta falar, porque a gente não vai escutar outra voz que não seja a dele. E se ele disser alguma besteira, a gente vai achar que é a besteira mais verdadeira deste mundo.
Meu primeiro envolvimento amoroso, efetivo ou aquele que eu quis que fosse efetivo, foi uma explosão. Desde as primeiras vezes em que eu passei a teclar com ele, saberia que a gente ia dormir juntos e que eu perderia minha virgindade com ele. Eu sabia antes da gente se ver. Com o tempo eu fui absorvendo algumas delicadezas dele, que nem ele conhecia sobre si mesmo. O seu jeito de dormir me abraçando super forte. E seu jeito protetor que sempre, sempre, se manifestava, aqui e ali. O dia em que as coisas não foram tão bem assim (afinal eu era virgem) e ele me colocou sobre seu colo, como se eu fosse um bebê, e me abraçou e pediu para que eu não não exigisse demais de mim mesma. As coisas entre nós não foram muito bem depois, tanto é que não nos falamos mais. Mas estas pequenas delicadezas eu guardei pra mim e é esta a imagem que eu guardei dele. Mesmo tendo me magoado muito, ainda penso nele com carinho. Hoje eu estava assistindo a seqüência de "Antes do Amanhecer" (Antes do Pôr do Sol). E Celine diz uma coisa para Jesse, sobre a qual eu me identifiquei muito. Parecia que era eu quem estava dizendo, parecia que ela tinha tirado aquelas palavras da minha boca. As pessoas passam pelas nossas vidas e nos marcam, em paixão, em amor, em mágoas. Passam e se vão. Mas nenhuma delas é substituível. E quando a saudade e nostalgia começa a apertar, são as pequenas coisas que apertam o nosso coração. As pequenas delicadezas. Como nós dois comendo batatas fritas na cama do motel, assistindo alguma coisa que agora não me lembro mais o que era. Ou então quando os olhos dele se enchiam de água depois de alguma coisa que eu dizia.
Foi meu primeiro envolvimento marcante. Depois veio o segundo. Quando a gente pára de raciocinar e acaba fazendo coisas que jamais julgou capaz de fazer. E faz sem culpa, ou quase sem culpa, tirando da garganta a velha desculpa de que o coração tem razões que... bla bla bla. Nosso envolvimento foi muito rápido, mas foi tão intenso! Hoje em dia eu não sei se foi tão verdadeiro assim, ou se foi fruto de uma carência, ou de duas carências. Lembro quando eu cheguei de uma baladinha, num sábado a noite, e ele percebeu que eu estava triste. Depois de dias conversando direto (eu saía do trabalho e não via a hora de chegar em casa), a gente já sacava bem um ao outro. Daí ele me mandou uma foto de vários, muitos girassóis. E depois me mandou outra onde ele estava no meio deles. Naquele momento eu liguei a tecla "f", o botãozinho que a gente aperta e o juízo vai embora. Decidi que não ia mais esconder os meus sentimentos, reações e sensações. E que não recusaria o próximo convite pra sair. Nós não conseguimos esperar o que combinamos, e na sexta-feira à tarde fomos caminhando até a avenida onde eu pegava meu ônibus. Ele me pediu para ir comigo até o metrô, onde jantamos, conversamos muito, rimos muito... ele foi pegar a pizza do outro lado da praça de alimentação e lá de longe, ficou fazendo palhaçadas pra mexer comigo. Depois me pediu para me acompanhar até o terminal de ônibus. Foi quando a gente se beijou pela primeira vez, e o beijo parecia ser perfeito... foram duas ou três semanas de paixão total. A gente se encontrava depois do trabalho e eu sentava na poltroninha do seu apartamento. Ele se sentava no puff, bem na minha frente, e ficava só me olhando, sem dizer nada. Um dia me fez dançar com ele. A janela do apartamento estava aberta e eu ficava imaginando que se alguns dos nosso colegas que moravam lá perto poderiam nos ver, dançando Eagles. Eagles e Phill Collins. Foi quando eu perdi a pose de menina comportada e tirei toda a minha roupa ali na frente do cara e ele não quis me tocar, porque não queria me magoar... a gente sempre almoçava junto, ou jantava junto, ou almoçava junto no sábado ou no domingo. A gente sempre comia comida mineira, ele ia direto no São Paulo I, porque sabia que eu adorava. As vezes queria pagar a conta, mas eu não deixava. Eu me sentia péssima quando ele atendia suas ligações, à noite e um dia tive uma crise de choro. Ele me acalmou e disse que eu tinha ensinado ele voltar a ser uma criança. Nunca me esqueço daquele homem, daquele tamanho, chorando feito uma criança, dentro do Mosteiro São Bento, e de eu tentando consolá-lo, pegando sua mão. Ele dizia que nunca conseguira se abrir com ninguém como estava fazendo comigo.
Lembro do jeito como ele mordia os dedos. Das risadas que ele dava, do nada, de coisas que não tinham graça nenhuma (mas eu gostava mesmo assim). Dos sapinhos que ele me trazia. De como ele parava no meio da rua pra me encher de elogios me dizer que eu era isso ou aquilo. Lembro das mensagens no meio da madrugada, quando ele se sentia sozinho. Do cheiro de banho tomado. Do sabonete Protex Herbal "pra matar os bichinhos". De algumas crises de ciúmes. Das nossas andanças por São Paulo, no metrô. Da moça que quis dar lugar pra gente sentar junto e de como ele ficava sem graça porque as pessoas não tiravam os olhos da gente. Um dia ficou esperando o ônibus sair e escreveu "eu te amo" no papel, colocando em seguida contra a janela, pra eu ver. Outro dia escreveu a mesma coisa o espelho embaçado do banheiro. E o dia que ele começou a chorar, porque ficou emocionado quando descobriu que a gente usava o mesmo perfume. Ele gostava de usar uma camiseta da Nike, preta, e achou engraçado quando viu um cara usando a mesma roupa que ele. Gostava de correr no parque e tomar Gatorade. Eu nunca tirava as meias na frente dele, porque tinha complexo com meus pés e ele me ajudou a perder um pouco o tal complexo. Me deu um par de meias das meninas super poderosas. Me mandava vários cartões virtuais com declarações. Tudo parecia um sonho e eu vivia repetindo pra ele que eu iria com ele pra onde ele fosse. Em qualquer lugar do planeta. Ele ficava escutando, pensativo. Um dia me perguntou se era verdade. Nunca me disse com clareza sobre seus planos, só que queria ficar, queria ficar, queria ficar. E vagamente, eu era um dos motivos. Mas não era o motivo maior. Tinha alguma coisa muito forte, que pulsava nele, e que fazia com que ele quisesse muito ficar por aqui. Eu torcia muito para que o seu desejo (que eu achei que fosse nosso) se concretizasse. Até que ele começou a viajar muito e a gente parou de se ver. Foi viajar para o sul e quando voltou, apareceu na frente da minha casa, terminando comigo.
Depois de muito tempo, eu descobri sozinha o que aconteceu. Sozinha e pela boca de outras pessoas. Descobri alimentando o que os outros chamavam de "paranóia". Mas não era paranóia, eu estava certa. E doeu, porque eu o via todos os dias, e ele passava por mim nos corredores como se nada tivesse acontecido. Várias vezes eu tive que ir pro banheiro enxugar o rosto ou arrumar a maquiagem. Várias vezes eu quis sair de lá. Várias vezes eu o odiei e parei de olhar no seu rosto, nos seus olhos e de lhe dirigir a palavra. De vez em quando percebo que isto o incomoda. Me incomoda um pouco, parcialmente. Não porque meus sonhos não foram realizados. Na verdade foram. Eu precisava viver uma história destas. Não sei se os poucos momentos que a gente viveu foram verdadeiros, mas basta que tenham sido pra mim. O que me incomoda é que eu perdi um amigo e a escolha não foi minha. Ele nunca quis conversar comigo sobre o que aconteceu, nunca demonstrou consideração nenhuma.
No dia do seu aniversário, antes de eu descobrir o que aconteceu e com quem ele estava, eu lhe mandei um presente. Pedi que entregassem no flat onde morava. Só que quem abriu ou recebeu o presente não foi ele. Sem saber, eu quase acabei com seu relacionamento. No dia seguinte ele nem me olhou na cara. Eu tava super ansiosa, achando que meu presente ia conseguir sensibiliza-lo de alguma forma, mas quando cruzei com ele na escadaria do prédio, ele passou por mim sem me olhar na cara. Daí eu fui juntando as pecinhas e hoje o quebra-cabeças está completo.
Durante muito tempo isto me magoou muito e marcou muito meus dias. Até que algo aconteceu, e que "curou" a minha ferida. Aos poucos ela foi cicatrizando, até não existir mais. Hoje, exatamente hoje, eu tenho certeza de que a nossa vida é feita de ciclos. E que este ciclo, se fechou. Sem deixar frestas nem rastros, nem feridas. Só lembranças boas, de um menino que nunca deixou de existir e que ainda está tentando se encontrar.
E eu acho que Celine está certa. Ninguém é substituível. O japinha se afastou, depois o moço dos girassóis. Eu aprendi muitas coisas com eles e me lembro dos dois com carinho.
Depois que o avalanche passou, eu estou tentando crescer e me preparar para um relacionamento de verdade. Onde a gente se fale durante o dia, e mande mensagens de texto. Faça planos para o final de semana. Andemos de mãos dadas pelo parque, ou pela rua. Façamos passeios, participemos das decisões um do outro. Que fiquemos perto quando estivermos precisando um do outro. Um relacionamento com diálogos, doações, aprendizados e amor! Tento não ficar ansiosa e pensar em como vai acontecer, se eu não sou uma baladeira de plantão e se não tenho vida social. E tento entender porque uma mulher como eu está sozinha, tendo tudo o que um homem procura: sou independente, inteligente, bonita, carinhosa, doce e compreensiva. Eu sei que o homem que estiver ao meu lado será feliz, porque sou muito companheira e amiga. Com o tempo me tornei menos exigente. Eu já namorei um riquinho que pedia dinheiro para o pai para me levar para sair. Trinta e cinco anos nas costas. Nenhum respeito. Já fiquei com um cara viajado e culto, mas imaturo e inconsistente. Agora, naturalmente, sem forçar e sem deixar de ser sincera, eu só espero que ele seja trabalhador, que ele seja inteligente, carinhoso, amigo e honesto. Confio que os meus olhos vão me dizer quando encontrar este cara e que o meu coração também, e de uma maneira diferente: tranquila. Confio que quando eu ver o sorriso do carinha eu vou sentir se é ele o carinha que eu estou procurando.
Talvez isto já esteja acontecendo e pela primeira vez na vida eu estou falando por mim; Pela primeira vez o meu coração me deixou falar, ou, se calou. Deve ser bom sinal. Vai ver que ele concorda comigo.
I´m happy.
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