Das coisas que se vão, e das coisas que ficam...
A casa onde meu padrinho morava, hoje está triste, fechada, escura e silenciosa. Alguem aluga a parte de trás. Na verdade, me custa muito ir até lá. Não é por falta de saudade, eu amo aquele lugar. Pensar na casa da minha avó é me lembrar de tantas coisas! A primeira coisa que vem à cabeça é o entardecer!!! A tarde caindo e deixando o céu lindo... o entardecer mais lindo do mundo eu via - e via de criança - do quintal da minha avó. E eu também gostava de quando tocava o sino da igreja. Era tudo tão silencioso, e as badaladas do sino rompiam aquele silêncio da tarde. Minha avó dizia baixinho, lá na cozinha, que eram seis horas. A gente fazia pipoca e tomava com chá. Ou então era a canja perfeita. Com aquele cheirinho inesquecível. Meus domingos. O lugar onde meu pai cresceu e eu também. Ali, minha irmã ganhava suas festas de aniversário. Festas Juninas, porque ela faz aniversário hoje, 24 de Junho. Tinha bandeirinhas e forró (mulher como mulher também, eu não entendia muito isso, porque era pequena). Tinha tudo. E tinha balão. Meu pai e o Tio Pedro soltavam o balão, que subia, subia, subia no céu. É... pensar naquele lugar é me lembrar de tudo isso...
Fico brigando com a eternidade, porque minha avó faleceu (eu tinha oito anos) e embora ninguém seja eterno, ela para sempre existirá dentro do meu coração. Por puro amor, por pura devoção. Por eu me olhar no espelho e ver aquela fatia da família, em feições e em natureza. Sou pacífica, como ela. Doce, meiga e ciumenta, como ela. E criança, mas esta parte a gente pula!
E minha avó se foi. De vez em quando ainda sonho com ela, e todos os sonhos que tenho com ela, são brancos. Incrível. Só vejo o seu rosto e ela veste a toquinha vermelha. E o resto, tudo, tudo, tudo é branco.
Mas faz tempo que eu não sonho com a minha avó. Ela deve estar brava comigo. Depois de muito tempo fui entender porque eu sonhava tanto com ela: e sonhava que ela estava me olhando, séria, de dentro de sua casa, por trás das portas de vidro fechadas.
Meu tio faleceu dormindo. E o encontramos quase dois dias depois, porque meu pai estava viajando. Quando chegamos lá na casa, seu rosto estava branquinho, virado para a parede. Ele morava sozinho, ele e os peixinhos. E no silêncio de sua morte, eles, os peixinhos dourados, foram os anjos da guarda. Velando seu sono e seu descanso.
Enquanto minha mãe cuidava de tudo (tudo), eu estava paralisada, do lado de fora, no quintal. Ali já houve tanto verde, tanta vida, tantas coisas. E a lembrança que pesa agora é a do meu padrinho deixando para sempre a sua casa.
Paradoxo, talvez. Porque eu sei, que ele ainda está ali. Com seus peixinhos dourados, sua solidão e sua inocência.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial