terça-feira, abril 03, 2007

do que dinheiro nenhum há de comprar...

Tem coisas que não têm preço, eu vivo dizendo isso, e pensando isso e falando isso e me torno repetitiva e chata e pentelha. Fico às vezes pensando: pobres dos meus amigos, seus ouvidos-pinico devem estar cansados dos meus discursos como quem tudo entende e como quem tudo sabe. Só que a verdade é que... nada sei!!! Pouco sei. De verdade. E tem coisas que... não tem preço! Eu penso nisso e sinto vontade de olhar pra trás e soltar uma risada escancarada quando eu rejeitei aquele bando de artistas de nariz empinado, segurando livros e livros debaixo do braço: odeio academicismo e nem vou falar muito nisso pra não ser repetitiva... também. E eu disse: tô fora! A arte está na alma e não nos livros. O livro alimenta, mas a fonte jorra de você e não do fato de você ter lido ou não uma biblioteca inteira e saber [ou não] falar javanês. E como dizia um amigo... raspei o gato. Dei no pé, mesmo.
E o tempo passa e cada vez mais eu saco que eu tava certa, quando eu vejo os meus amigos do Santa. Pra quem não sabe do que eu estou falando, muito prazer: meus amigos da Paróquia Santa Terezinha, que conheço há pouco mais de dez anos. Os meus amigos do Santa nunca fizeram teatro na vida, e eu sou testemunha do quanto eles conseguem evoluir nas montagens que nós fazemos. Querem exemplinhos?
O Dú Negão tinha que fazer um sacerdote, mas ele tava requebrando como um funkeiro. Dei uns toques mínimos, e o cara tá um arraso. Cada gesto, e o olhar sobre o companheiro de cena, e o jeito de andar.
Quando eu falo de como temos que tomar cuidado com as palavras - a maneira como elas saem da nossa boca, posso usar o Christian como exemplo. Ele dá vida para cada palavra que pronuncia: elas não sabem de qualquer jeito, mas com uma entonação toda especial.
Tem gente que tem uma boa sacação cênica: O Renato Ribas. Ele sempre dá toques legais e muito bem justificados. E acredito nele, quando está em cena.
De gente como Índio, Dennys, Dênis e Daniel eu já não digo nada... :OD
E já que eu tô falando de surpresas, por que não falar sobre a maior de todas?
Começou quando eu recebi a lista de personagens e vi o nome dele ao lado do personagem principal (Jesus). Ele? Me lembrei - na hora - da conversa que tivemos quando ele me deu carona, uma vez e me disse que teatro não era a praia dele. Quer dizer... o fato é que no primeiro ensaio, ele já estava com todas as falas decoradas. Vem me fazer uma pergunta e eu vejo suas anotações, como um ator profissional (isso porque esta é exatamente a tática que eu uso para decorar textos: escrevê-los). Ele é tímido e passou por cima do que ele pensava ser seus limites, para **servir**. O que dizer, diante disso?? E o que dizer, quando eu já não vejo o Marcinho em cena, mas vejo Jesus?
Vocês sabem quando uma cena teatral está pronta? Quando o público está acreditando dela. E quando eu vejo a cena da Santa Ceia, e os olharezinhos, os trejeitos, o monólogo interno (ele nem sabe que faz isso), a suavidade que eu considero ser característica de Jesus, misturada na medida certa com firmeza... eu acredito piamente nele.
Enquanto nós estamos tão escassos de atores e atrizes disponíveis e realmente comprometidos para o trabalho, de-repente, vejo a Carolzinha descendo do carro dos pais: ela havia ido almoçar com eles, e como é uma colaboradora (mas não atua), eu não a estava esperando. Saber que ela trocou sua tarde com a família por um projeto que abraçou, junto com o namorado, quase como só uma acompanhante, não tem preço!!!! Viu como não tem jeito??? Eu tenho que dizer!!!!
Ver um cara que é super tímido passar por cima da própria timidez e de outros conflitos, já que nunca tinha feito teatro antes (suponho) e encarar com tanta vontade o desafio, e fazê-lo com sutilezas iguais às de um ator profissional... também não tem preço! Se alguém ainda espera que as palavras digam o que sentimos melhor do que as atitudes, eu desafio: palavras não valem nada, perto de atitudes como estas!
E eu estou escrevendo isso aqui, porque eu queria falar... mas talvez não conseguisse. O que eu quero dizer é que, apesar das dificuldades que existem, eu não posso deixar de estar feliz, por causa de agradáveis presentes como este.
Como vocês podem perceber, tudo o que você precisa para fazer arte [além de malandragem] é vontade, intuição e FÉ. Isso prova o que o teatro e a religião têm em comum. Os dois precisam em primeiro lugar, de nada mais do que simplesmente ACREDITAR.
***
Do que dinheiro nenhum há de comprar II
De modo que quando Jesus está levando a cruz, ele cai três vezes. Na terceira queda, Verônica enxuga seu rosto, com o pano onde no futuro próximo há de estampar seus traços. Na nossa igreja, a Dona Olinda interpreta este papel há 40 anos. Só que na cena, ao invés de ela enxugar o rosto, ela canta, liiiiiiiiiricamente..., toda vestida de preto, com lenço cobrindo o rosto. Enquanto canta, seu canto fúnebre, ela desenrola um pergaminho onde está estampado o rosto de Jesus Cristo. E nosso ensaio, no domingo, rolou assim. Só que ela foi embora. E na segunda vez que ensaiamos, quando vi, lá estavam seus substitutos...
...os garotos todos, em pé, no alto, cantando como galinhas com dor de barriga. Cantavam e riam. E caído ao chão, com a cruz, o Marcinho, que interpreta Jesus, passando mal de tanto rir.
Do que dinheiro nenhum há de comprar... [risos]
Eu morro de orgulho destes meninos...!!!

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